domingo, 30 de setembro de 2012

Testament - Dark Roots Of Earth (2012)



A Vingança do Deus Selvagem da Floresta

Prólogo –  À Somba do Big Four

Formada em 1983 pelo guitarrista Eric Peterson, ainda sobre o nome Legacy, o Testament passou por diversas mudanças de formação até a gravação de seu debut, The Legacy, em 1987.
Talvez por ter saído atrás dos outros ícones da Bay Area, a banda é comumente taxada como uma banda de segundo escalão do Thrash Americano. Um tremenda injustiça. Dona de uma discografia das mais regulares na história do metal, possuidora de uma musicalidade absolutamente acima da média e reconhecida por fazer um dos melhores e mais vigorosos shows que o dinheiro pode pagar a banda vendeu nada menos que 12 milhões de discos em sua carreira e angariou um lugar especial no oração de muitos headbangers ao redor do globo.

Anos 1980 - o Velho Testamento
Após a gravação de cinco discos contando com o prodígio Alex Skolnick na guitarra solo, a banda passou por uma década de 1990 de mudanças constantes no line up e na sonoridade, que passou a incorporar cada vez mais elementos de death metal e thrash moderno.

Totalmente na surdina, em 1999, sob a batuta do mago Andy Sneap na produção, a banda montou um verdadeiro time dos sonhos do Thrash e gravou seu melhor disco – o estupendo The Gathering. O soerguimento do Testament quase foi interrompido por uma desgraça pessoal. O vocalista Chuck Billy, um ameríndio grandalhão com aço no lugar das cordas vocais lutou bravamente contra um câncer. Durante o período que durou a batalha, a banda acabou por fazer as pazes com o passado, reunindo a formação clássica para deleite dos fãs.

Chuck "Bugio Raivoso" Billy - nem o Câncer pode com ele.
Após um disco de regravações, o mundo viu o primeiro rebento desse retorno. O furioso The Formation Of Damnation. Um disco poderoso, mas que falhou ao fazer a ponte entre o velho Testament e as novas sonoridades incorporadas pela bandas na última década. Fato assumido como culpa por Eric Peterson, que disse ter composto 99% do material da bolachinha.
Após alguns anos excursionando junta, a nova formação finalmente teve tempo de compor material como uma banda novamente, e esse material vem ao mundo sobre o nome Dark Roots Of Earth.


Wild God Of The Forest

E antes de colocar o tão antecipado CD para rolar, já fiquei impressionado pela arte de capa, desenhada por Eliran Kantor  (ver o trabalho do artista no link abaixo) seguindo uma ideia de Eric Peterson. O desenho foi intitulado The Wild God Of The Forest e representa claramente a intenção do material sonoro: pesado, épico e obscuro.

A violenta Rise Up (ver faixa ao vivo no Wacken) é a típica faixa soco na cara. Violenta e rápida, ainda que grudenta. Nela já observamos a perfeição da produção de Andy Sneap e um pequeno e importante ponto que se insinua aqui e seria confirmado ao longo do restante do disco: uma preocupação maior nos solos de guitarra.


Native Blood, faixa de trabalho do disco (ver clipe), vem cercada de uma história interessante. Chuck Billy nunca ligara para sua ascendência indígena. Mas sua batalha contra o câncer o colocou em contato com suas origens, inclusive na vertente espiritual (ver matéria abaixo). Em gratidão a seus antepassados e em homenagem a todos os povos indígenas das Américas, o Grandalhão compôs essa música. Justamente para tentar atingir os povos indígenas da América latina, a banda chegou a tentar gravar uma versão em espanhol, chamada Sangre Indigena (ver detalhes no trecho que fala sobre os bônus da edição limitada).



Independente da história por detrás da música, Native Blood é excelente. Seja pelo trabalho de guitarras, seja pela destruidora voz de Mr Billy, o melhor vocalista do Thrash americano. Se não bastasse isso, ainda somos presenteados pelo trabalho irrepreensível da máquina de tritura baterias chamada Gene Hoglan, que reassume com maestria seu posto na banda.






A faixa título resgata as Power baladas que o Testament faz com maestria desde The Legacy e lembra algo da fase Souls Of Black/The Ritual, só que com maior inspiração. A temática, centrada na vingança da natureza contra a humanidade e seus abusos contra o meio ambiente, preocupação antiga da banda que inspirou no passado a faixa Greenhouse Effect, de Practice What You Preach. Épica, pesada e melódica – candidata a novo clássico da banda.


2012 - o Novo Testamento!

True American Hate (ver clipe), nasceu do temor de Chuck Billy pelo futuro de seus filhos e netos, vivendo num mundo onde o ódio aos Estados Unidos da América foi alimentado por décadas, fruto dos abusos da política externa americana em relação à soberania de vários países ao longo da história. Talvez seja essa a faixa que mais se aproxima do que o Testament fez em The Gathering e The Formation Of Damnation. Pesadíssima e inspirada, deve fazer um baita estrago ao vivo.



O nível do solos e riffs de A Day In The Death evidenciam o cuidado da banda com as guitarras nesse disco. No documentário que acompanha a edição limitada, Eric Peterson comenta que Alex Skolnick pediu que eles tentassem fazer como nos velhos tempos: pegar uma cervejas e, juntos, brincar com riffs e solos numa sala longe da banda e da pressão das  sessões de gravação. Dessa maneira muitas das músicas do novo trabalho nasceram, assim como foram trabalhados mais detalhadamente os solos, ao contrário do que ocorreu no disco anterior. A idéia funcionou perfeitamente e o que temos aqui é um resgate do senso melódico que sempre foi um diferencial para o Testament na cena.

Eric e Alex, arregaçando tudo no novo disco
E senso melódico é o que não falta na Power balada épica Cold Embrace, outra que remete a The Legacy e ao material mais trabalhado de The Ritual. Uma faixa belíssima e mais uma demonstração de como uma banda pode ser versátil sem perder a identidade.

A pancadaria recomeça com força total em Man Kills Mankind, que parece algo inicialmente pensado para o clássico The New Order e que só viu a luz do dia agora, de forma anabolizada.

O tom épico é retomado com Throne Of Thorns, inclusive no que tange à letra, com temática fantástica à lá RPG. Uma faixa excelente que aparece em uma versão estendida magistral na edição limitada do disco.

O disco termina como começou, com uma música veloz e direta, Last Stand For Independence, como que para fechar um ciclo. E apesar de não ser exatamente um disco curto (51 minutos), deixa aquela saudável sensação de que poderíamos agüentar mais uma hora de material da banda.


Para quem comprou/baixou a edição limitada, ainda temos quatro faixas a mais, que serão analisadas ao fim da resenha.





Saldo Final

Dark Roots Of Earth é bem sucedido em tudo o que se pode exigir de um grande disco de metal.
A produção é pesada e cristalina, as musica são marcantes, existe uma variação saudável de temas e ritmos, as performances individuais estão muito acima da média e o material ainda por cima faz sentido como um todo, não parecendo um amontoado aleatório de músicas. Tudo isso embalado em uma das capas mais bacanas dos últimos tempos.

A recepção ao disco foi arrebatadora: 12º lugar na Billboard e primeiro lugar nas paradas em vários países europeus, já sendo o disco mais bem colocado nas paradas ao redor do globo da história da banda.
Se o novo rebento do Testament irá ou não se tornar um clássico, só o tempo irá dizer. Eu já o coloco ao lado do The Gathering como meu favorito da banda.

Testament - no topo das paradas ao redor do mundo:

E faltando 3 meses para o fim de 2012, não tenho medo de errar: Dark Roots Of Earth é o disco de Metal do ano!




NOTA: 10





Edição Limitada

As faixas bônus da edição limitada são um presentão: versões avassaladoras para Dragon Attack (Queen); Animal Magnetism (do Scorpions, já coverizada pelo Memento Mori) e Powerslave (Iron Maiden, a menos legal do pacote). Além das três covers, temos também uma versão estendida para Throne Of Thorns, contando com uma seqüência de solos ao final que me fizeram perguntar por que diabos não colocaram essa no repertório normal do disco. A música conseguiu ficar ainda melhor!

O DVD bônus está dividido em três partes.
A primeira é um documentário: “making of Dark Roots Of The Earth”, dcom duração aproximada de 30 minutos, focando basicamente na torrente criativa que apossou Eric Peterson ao chegar ao estúdio de Andy Sneap, situado num belo sítio no interior da Inglaterra (em Derbyshire). Interessante ver Eric falar sobre as experiências sobrenaturais no lugar. O que seria da Inglaterra sem suas histórias de fantasma? Se bem que é só olhar para a cara do baixista Greg Christian para imaginar de onde se tirou a inspiração para o Guardião da Cripta...brrrr.
O material é muito bem filmado e editado e apesar de não contar com legendas, a dicção dos caras é tranqüila (exceção feita a Alex Skolnick) e não acredito que alguém terá problemas para comprender o material. O ponto alto do documentário é o trecho em que mostra Chuck Billy tentando gravar uma versão em espanhol para Native Blood – hilário!
Um material bastante completo e interessante que, apesar de centrado na feitura do novo disco, pesca um assunto aqui e outro acolá sobre a história da banda.

A segunda parte do DVD é um trecho da apresentação da banda no The Avalon. Temos então Practice What You Preach, Disciples Of The Watch, Over The Wall e Souls Of Black representadas em um material (com duração de 20 minutos) que deve ser considerado apenas como um bootleg, já que a qualidade de som e imagem não são lá essas coisas.

A terceira parte é um “Gear Tour” (aproximadamente 10 minutos) com os guitarristas da banda.  Certamente uma parte dos extras que irá interessar muito mais os músicos em geral do que os fãs leigos.



No final das contas, os bônus que realmente valem são as excelentes faixas extras no CD. O DVD é legal, mas não acredito ser um material a ser assistido mais do que um par de vezes na vida.





Ficha Técnica

Banda (Nacionalidade): Testament (EUA)

Título (ano de lançamento): Dark Roots Of The Earth (2012)

Mídia: CD (CD + DVD na edição limitada)

Gravadora: Nuclear Blast (Importado)

Faixas: 9 (13 na edição limitada)

Duração: CD – 51’ (76’ na edição limitada) DVD – 60’

Rotule como: Thrash Metal

Indicado para: Qualquer fã de metal.


Passe longe se: sua diversão favorita for assistir Carrossel.

6 comentários:

  1. Sempre achei que o Testament deveria estar no pacote dos "Big". Um Big 5 seria ideal, quiçá um Big 6 (com Exodus) pra destruir tudo!

    Este é realmente um puta disco! Um discão pra bater muita cabeça! Como vi o show deles em 2008 no Canecão, fico salivando e esperando por uma nova oportunidade. Não há concessões neste disco, só porradaria.

    Impressiona ver como eles são fantásticos para conseguir bateras fodões (Dave Lombardo, Gene Hoglan, Paul Bostaph - curiosamente o mais fraquinho foi o original Louie Clemente) e sem dúvida o Gene está na banda certa para ele!

    Neste disco, realmente não dá pra curtir Powerslave (e não é porque sou maidenmaníaco, blablabla...): Simplesmente a voz do Chuck não casou com o estilo da música.

    Procura no YouTube o show deles no Bloodstock Festival deste ano. O som está um lixo, mas eles arregaçam tudo! Pena que, ao que parece, as relações dentro da banda já estão em avançado processo de erosão...

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  2. Fala, Krill
    Cara, realmente li uma entrevista antes do lançamento do disco na qual o Eric meio que alfinetava alguém da banda (que suspeito fortemente ser Alex Skolnick), insinuando que a permanência da formação clássica dependeria do sucesso do disco (dando a entender sucesso financeiro). Ia citar isso na resenha, mas não encontrei mais a tal entrevista. As entrevistas pós lançamento não dão nenhum indício dessas desavenças, talvez porque esse se tornou o disco mais bem sucedido da banda em todos os tempos, seja em termos de crítica, seja em termos de posição nas paradas internacionais. de repente isso fez com que Eric e Alex tenham redescoberto o amor um pelo outro, whahaha...ah, o vil metal...
    Ah e não achei Powerslave ruim, mas ficou estranha, principalmente à primeira audição.
    Ah e o show de 2008 foi um arregaço, e nele esles contaram com outro grande batera, o tio Chico da Família Adams que toca no Dimmu Borgir, não lembro o nome. lembrei-me agora do bom John Dette...definitivamente o Sr Clemente foi o mais fraco a ocupar o posto.
    Abracetas
    T

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  3. Tem ainda o grande John Tempesta e, novamente, mantemos o Sr. Clemente como o mais fraquinho no posto de baterista.

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    1. Prezado Sr(a) Anônimo(a)
      Grande John Tempesta!!!!
      O Cara do Dimmu Borgir que citei é o Nicholas Barker!
      Ah, e coitado do Mr Clemente...não dá para competir, hehe
      abraços
      Trevas

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  4. To meio atrasado, mas acho que vale o comentário!

    Achei o cd fodástico!
    Escutei algumas coisas do começo do testament e já tinha achado maneiro...
    Mas esse cd tá bom demais.
    Tá tudo com uma pegadona absurda, e é só pedrada! hehe

    valeu pela dica! =)

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    1. Fala, Pablo
      Testament raramente é uma aposta arriscada, mas esse aqui está quase perfeito.
      Comentários são sempre bem vindos e nunca vem tarded emais, hehe
      abraço
      T

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