terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Dobradinhas: 5FDP + Queensrÿche



Dobradinhas: 5FDP + Queensrÿche






Five Finger Death Punch – The Wrong Side Of Heaven And The Righteous Side Of Hell

Macho, Macho (pop) Metal em Duas Viciantes Partes

A New Wave Of American Metal tem sido extremamente prolífica em bandas, todas elas contando com pontos em comum a despeito do subestilo: músicas pesadas, que fazem uma ponte entre modernidade e o passado do metal e com um tino incrível para melodias radiofônicas.
Um dos exemplares que melhor ilustram esses pontos, o Five Finger Death Punch (ou simplesmente 5FDP) estourou para o grande público com uma versão pesada para Bad Company (sim, da banda homônima de Paul Rodgers) e desde então vem angariando tantos fãs quanto detratores, muitos desses últimos geralmente críticos da postura “testosterona ao máximo” que a banda passa. Apesar da postura “Macho Man” e belicista, na verdade o 5FDP é das bandas mais palatáveis para o grande público dessa nova safra, talvez devido à simplicidade de suas músicas.

Só cabra bonito e simpático

A suposta falta de conteúdo da banda fez com que muitos estranhassem quando a mesma anunciou o lançamento de um disco duplo, atitude muito mais comum em se tratando de bandas mais ambiciosas estilisticamente. A produção das duas bolachinhas ficaria ao encargo de Kevin Churco (produtor da safra atual de discos do Ozzy Osbourne) e foram anunciados alguns artistas convidados: Max Cavalera, Rob Halford, Jamey Jasta e Maria Brink.

Volume 1

O primeiro disco, saído em julho desse ano, começa arrasador, com o single Lift Me Up (ver vídeo) contando com ótimo refrão e participação marcante de Rob Halford, como que para mostrar que a valha guarda aprova o trabalho do 5FDP. Watch You Bleed mantém a toada, mostrando que a banda vem se especializando em uma mistura de metal moderno com referências a bandas clássicas e uma veia radiofônica típica do metal americano, sem que isso represente música estéril e sem peso. Tudo isso em faixas que raramente ultrapassam 4 minutos. O peso dá as caras com maior intensidade em números como You, Burn MF, Dot Your Eyes e I.M. Sin, sendo essas últimas dois dos destaques, em especial nas versões bônus da edição limitada.



Mas o 5FDP mostra também ter uma mão bastante boa para Power ballads, diga-se de passagem, fazia tempos que não ouvia boas baladas metálicas como a faixa título, M.I.N.E. (lembrando bastante o lado melódico do Stone Sour) e Anywhere But Here, essa última contando com a discreta participação de Maria Brink (In This Moment) em sua versão original.


As participações especiais trazem um diferencial para a edição limitada do disco. Em Anywhere But Here, Maria Brink aparece em maior destaque na versão bônus. Dot your Eyes melhora ainda mais com a possante participação de Jamey Jasta (Hatebreed), assim como o faz Max Cavalera (inclusive em português) com I.M Sin. Até mesmo a participação do rapper Tech N9ne em Mamma Said Knock You Out (versão para a música do também rapper LL Cool J) ficou legal, lembrando as interações metal/rap da trilha sonora clássica do filme Judgement Night.



A edição limitada também possui um CD ao vivo de bônus, contendo uma apresentação completa da banda, com 17 faixas em ótima qualidade. Portanto, se esbarrar com essa edição, dê preferência, os bônus engrandecem e muito o material.

Volume 2

Volume 2

Lançado poucos meses depois do primeiro volume, o segundo disco veio ao mundo com a ingrata tarefa de igualar o alto nível de seu predecessor. Sem contar dessa vez com nenhuma participação especial, o Volume 2 foi alardeado pela banda em entrevistas se tratar da nata do material composto para a dobradinha. Parecia pura bravata, e é mesmo. Essa segunda parte é legal, mas não chega perto da primeira.

Here To Die, Weight Beneath My Sin e Wrecking Ball tentam quase com sucesso repetir o início radiofônico, porém arrasador do disco anterior. E se eu disse anteriormente que a banda fazia boas Power-ballads, é porque eu ainda não havia escutado essa fantástica Battle Born (ver vídeo). Os caras se tornaram mestres nesse tipo de baladinha metal. Tão previsível quanto viciante, essa música pode ser considerada o destaque absoluto do segundo disco e tocaria nas rádios facilmente tivesse sido lançada ao final dos anos 1980.


Cradle To The Grave mantém o híbrido peso/melodia/radiofonia vivo com méritos. Daí para a frente o disco fica um pouco irregular. A Matter Of Time é apenas correta, The Agony Of Regret não passa de uma curta introdução para Cold, a menos legal das baladas do pacote. Let This Go e My Heart Lied são bons exemplares de Pop Metal e A Day In My Life não traz nada demais. 
Como citado anteriormente, o 5FDP estourou de vez com uma versão metalizada para um clássico do rock. Por isso não deixa de ser curioso que o ponto baixo dos dois discos seja justamente uma tentativa de reproduzir esse sucesso, dessa vez errando feio com uma péssima rendição para House Of The Rising Sun (famosa por sua versão pelo Animals). Essa versão ficou tão ruim que parece coisa dos Mamonas Assassinas. E se nessa segunda parte não temos faixas bônus, por outro lado a edição limitada traz o DVD do show encartado como Cd na edição limitada da primeira parte, o que compensa bastante.


Saldo Final

A estratégia de marketing de mostrar que a banda “tem tanto material de qualidade composto que ficou impossível lançar tudo em um só disco” é manjada e não funciona tão bem atualmente, quando o conceito de disco já não parece fazer tanto sentido para as novas gerações. E via de regra os “discos gêmeos” poderiam funcionar muito melhor caso o material fosse bem escolhido e compilado em um só trabalho, mais forte. É o caso aqui. Se pegassem a primeira parte inteira e fundissem com as 4-5 melhores da segunda parte, teríamos um provável clássico em mãos. Ainda assim, tratam-se de dois bons lançamentos, com ampla vantagem para o Volume 1.

NOTAS
Volume 1: 9

Volume 2: 7,5




Queensrÿche: Queensrÿche x Frequency Unknown



Goleada na Primeira Partida

A história do rock conta com um sem número de aberrações e o capítulo recente da biografia do grupo estadunidense Queensrÿche exemplifica uma delas: o caso da banda que passa a existir em duas versões. A separação traumática do vocalista alemão radicado no Canadá Geoff Tate do restante do grupo foi um fato extensamente explorado pela mídia especializada desde seu acontecimento em junho de 2012 (clique aqui para ver um resumo).

Esses 4 juntos novamente? Só nos tribunais...
De lá para cá transcorre uma disputa legal pela marca, e até que a mesma seja findada, teremos duas versões do Queensrÿche, a do Geoff Tate e a de Michael Wilton, Eddie Jackson e Scott Rockenfield. Cada parte se defende como pode. Tate, autor de 90% do material do Queensrÿche, garante que esse fato por si só lhe garante o direito de seguir com a marca. Já os três outros tem a seu favor o fato de serem membros fundadores da banda, quando essa ainda atendia pelo epíteto The Mob. Além disso, acusam Tate de ter dilapidado a marca ao colocar seus familiares e agregados para tratar dos negócios do grupo, dando-lhe vantagens contratuais indevidas. Enquanto a justiça não dá seu veredicto, os dois Queensrÿches resolveram nos brindar com suas visões musicais do que representa a banda.

E essa visões, para um bom observador, ficam claras desde as escolhas dos nomes para os discos. Tate parece tentar dar prosseguimento ao Queensrÿche dos últimos lançamentos, nomeando o disco com um título, Frequency Unknown, que a princípio em nada faz transparecer toda a polêmica vivida atualmente. Aparentemente, pois na capa do disco, temos as iniciais F.U. em evidência. Simples abreviação ou um sonoro “Fuck You” para seus ex-parceiros?

Enquanto isso, o título homônimo escolhido pela outra versão, dá a clara sensação de retorno às origens. Um Queensrÿche Reboot. E essa sensação torna-se concreta assim que colocamos as duas bolachinhas para rodar. Vou analisar os dois discos por etapas.


Arte Gráfica

Duas artes simples e diretas. Tate nos presenteia com um soco na cara (de seus detratores? De seus ex-companheiros? De Seus Fãs? Não fica claro.) e a famosa logomarca aparece com discrição, sob a forma de um anel.
Na ordem: Queensrÿche, Frequency Unknown

Queensrÿche traz uma imagem simples e direta do logo da banda. Novamente a ideia de um reboot. A edição limitada desse segundo disco, além de três faixas ao vivo (novas rendições de velhos clássicos), traz uma embalagem em formato de caixa, contendo adesivo, patch e palheta.
Enfim, duas artes simples e nada chamativas, um empate técnico nesse quesito.


Pessoal

Tate aparentemente tentou atrair atenção para sua versão da banda ao incluir uma longa lista de convidados especiais em seu Frequency Unknown. Temos aqui, só para exemplificar, gente do naipe de Craig Locicero (Forbidden), KK Downing (ex-Judas Priest), Dave Meniketti (Y&T), Paul Bostaph (Slayer), Simon Wright (Dio e AC/DC), Ty Tabor (King’s X) e Rudy Sarzo (Ozzy, Blue Oyster Cult, Whitesnake, Quiet Riot). Um time de respeito, mas como essas participações soaram no disco, aí é história para mais tarde. A produção ficou ao encargo de Tate e Jason Slater.

Alguns dos culpados por Frequency Unknown
Já o Queensrÿche versão 2 não pareceu se importar muito com nomes. Além dos três membros originais, a banda conta com Parker Lundgren na segunda guitarra. Curiosidade mórbida à La João Cléber: Lundgren fora trazido ao mundo do Queensrÿche incialmente pelo próprio Tate, pois fazia parte de sua banda solo. Posteriormente casaria com uma das filhas do chefe (e se divorciaria pouco depois). Já para o posto de vocalista, foi escolhido o estadunidense Todd La Torre. Baterista de formação, La Torre teve sua primeira experiência como vocalista profissional já tardiamente, aos 35 anos, substituindo o falecido Midnight no Crimson Glory. Todd já vinha trabalhando com os atuais colegas no projeto Rising West e anteriormente em algumas demos de um projeto solo de Wilton.


Queensrÿche, com Todd ao centro.

Para remeter ainda mais ao som clássico da banda, o produtor escolhido foi James “Jimbo” Barton, engenheiro de som (e produtor eventual) da banda nos lançamentos do período Operation MindcrimePromised Land. Há ainda a participação de Pamela Moore (a Sister Mary de Operation Mindcrime) em uma das faixas.

Sonoridade e Músicas






















1. Frequency Unknown

Cold abre o trabalho indicando claramente que Tate não tem intenção alguma de desviar da evolução musical que vem implantando ao Queensrÿche desde á saída de Chris De Garmo. Soa como o Queensrÿche dos últimos discos. E a despeito da opinião negativa que essa afirmação possa trazer, é uma grande faixa e foi corretamente escolhida como primeiro single.


O disco segue com uma sequencia de faixas diretas, modernas e pouco interessantes, mas que poderiam ter um apelo um pouco maior caso não fossem prejudicadas por uma produção ruim, com os instrumentos soando sem brilho ou força, tal como a própria voz de Tate. A culpa foi jogada na mixagem, tendo rapidamente sido lançada uma versão com mixagem diferente, mas que ao que pude ler, não ajudou em muito. O disco soa como uma demo aceitável em se tratando de um artista já estabelecido. E o pior é que essa sonoridade sem vida acabou por tornar dispensável todo o cast unido pelo vocalista.


Tate: os caras me deixaram careca...
Surpreendentemente o material dá uma guinada de qualidade em suas últimas faixas. Life Without You, Everything, Fallen e a épica The Weight Of The World (com belo solo de Chris Poland), em contrapartida ao restante do material parecem querer trazer de volta um pouco que seja do velho Queensrÿche. Melancólicas, melodiosas e com uma veia mais old school, poderiam se encaixar sem muito estranhamento em discos como Empire e Promised Land.


Uma pena que pouco após nos mostrar que existe esperança, Tate faça o favor de jogar lama ao assassinar quatro clássicos da banda em rendições pouquíssimo inspiradas, e com produção pavorosa. I Don’t Believe In Love, Empire, Jet City Woman e Silent lucidity não mereciam isso.





















2. Queensrÿche

A breve introdução X2 parece nos preparar para uma viagem no tempo, remetendo a Rage For Order. E quando Where Dreams Go To Die entra em seus primeiros versos, somos fantasmagoricamente confrontados com o que parece ser o Geoff Tate de outrora. O susto é imenso, tamanha semelhança do timbre e interpretação de La Torre com o que o veterano vocalista fazia na década de 1980. Grande música, apesar do susto.


A produção de Jimbo parece colaborar com o clima vintage que as músicas nos passam, e a qualidade do material surpreende. Spore poderia estar em qualquer disco pré Empire da banda. Na ótima In This Light pode-se perceber que La Torre é mais que um mero macaco de imitação bem treinado, apesar de em alguns momentos ele fazer questão de nos lembrar do fantasma de Tate


Redemption foi a primeira música apresentada ao público e dá para entender o porque: parece uma amalgama de todas as fases do Queensrÿche. Uma boa amalgama, mas nem de longe a melhor música do pacote.


Vindication parece saída diretamente de The Warning, e poderia soar datada, não fosse uma faixa bastante boa. A intro Midnight Lullaby prepara o terreno para a soturna e bela balada A World Without. Don’t Look Back acelera as coisas com guitarras saídas dos anos 1980. Curta, old school e certeira. Fallout foi escolhida como música de trabalho, mas não me parece tão interessante para merecer esse destaque. Muito melhor resultado a banda obteve com a épica Power-ballad Open Road, que encerra os curtos 35 minutos da edição original com maestria. As três faixas ao vivo contidas na edição limitada são Queen Of The Reych, En Force e Prophecy, faixas muito raramente apresentadas nos palcos pela banda na última década. Boas rendições, mas nada que mereça um dinheiro a mais.

Saldo Final

Enquanto Tate não se decide entre modernidade e revival, a outra versão do Queensrÿche nos coloca uma máquina do tempo para nos fazer relembrar o quanto a banda havia sido fantástica. Obviamente de nada essa viagem valeria se as composições não fizessem justiça ao enfoque vintage escolhido. Mas elas o fazem, com louvor. Se formos suficientemente cínicos, o Queensrÿche sem Tate pode ser acusado de vilipendiar o passado, o que fica difícil de defender quando se escuta Todd La Torre imitar descaradamente Geoff Tate em boa parte do material. Mas os méritos tem que ser dados, os caras mergulharam fundo na auto-referência e ainda assim saíram de lá sem parecer uma mera paródia. Já Tate, esse deveria repensar sua carreira e se reinventar, pois independentemente do resultado dos tribunais, trata-se de um dos maiores vocalistas da história do rock e tem capacidade de apresentar algo melhor do que Frequency Unknown.

Em suma, se o resultado dos discos for refletido nos tribunais, dará uma goleada para o Queensrÿche de Wilton, Rockenfield e Jackson.

NOTAS:

Frequency Unknown: 5,5

Queensrÿche: 8,5  

2 comentários:

  1. Prezado Trevolixo: De início, desejo-lhe um venturoso 2014, com mais postagens a cada 8 meses! Precisamos rediscutir o contrato! você não está me pagando o suficiente para ser seu único comentador desta bagaça!

    Mas vamos ao review:

    (1) Quanto aos 5 filhosdaquela, devo dizer que esse metal estadunidense modernoso não me convence, nem agrada. Isto posto, há que se considerar apenas que sua pessoa caberia finamente na foto da banda...

    (2) QR Feat. Geoff Tate: só escapa mesmo a 1º faixa. Quando escutei, pensei que seria o bom e velho QR de antanhos, masssss... Todo o resto é uma garapa só, e reflete bem o caminho escolhido por Mr. Tate, já há uns bons pares de anos: chatinho, fraquinho, insosso, desinspirado... Uma pena, porque ainda acho a voz dele muito boa! O fato de ter feito um catadão de excelentes músicos para gravar o "disco" também não ajudou... Cadê a identidade que só uma banda mesmo coloca numa gravação? Há que se lembrar também o show-vergonha-alheia do Monsters... Foi de doer! E, finally, quanto aos homicídios dolosos das "regravações"... THE HORROR... THE HORROR...

    (3) QR, MK 2: O play deles me agradou. Mas espera um pouco: se o problema era o Tate, porque os três cuzões não tomaram as rédeas ANTES? Era mesmo necessário aceitar cometer coisas como Q2K, American Soldier e Dedicated to Chaos? Enfim, eles já me pareciam sem rumo desde que o Chris de Garmo picou a mula... Colocaram um bom clone de Geoff no vocal, musicalmente continuam bons, vamos ver o que dirão os tribunais (Tate já disse que, qualquer que seja a decisão, ele já terá ganhado... How modest of him!)...

    Jundas!

    Krill - O ÚNICO COMENTADOR DESTE CARALHO DE BLOG!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Krillzito, vamos lá
      1. Cabra, quando a gente começa a achar o som das bandas modernoso é porque rapiadamente se aproxima o dia do arremesso e fraldão geriátrico, hehehe. E não, sou bonito demais para essa banda.

      2. Concordo que o "catadão" atrapalhou mais do que ajudou. O show do Monsters deu pena, mesmo, ao menos pela televisão foi tétrico. E as regravações? Deprimentes, mesmo. Será que não tinha nenhum amigo de verdade perto do cara para mandar ele se tocar?

      3. É um bom ponto, muito fácil falar que levaram quase 20 anos para perceber o quanto o Tate estava empatando foda. Ou são muito bananas ou essa história está muito mal contada.

      Ah, e vc é o único que comenta aqui por um motivo muito simples: é o único que lê. Nem o Obama fuça meu blog, hehehehe. Quando os terroristas descobrirem isso vão ficar conversando aqui nos comentários sem risco nenhum.
      Abracetas!
      T

      Excluir