quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Enslaved – E (Cd-2017)

Enslaved - E
Space Drakkar
Por Trevas

A norueguesa Enslaved teve início no longínquo ano de 1991. Com boa parte de seus membros ainda curtindo a adolescência, a banda abraçou a subcultura repleta de outros adolescentes ranhentos e bocós, a emergente e infame cena do Black Metal. Provavelmente tão logo a testosterona parou de afetar o cérebro, a banda passou a trazer para seu som influências de outros gêneros, renegando o rótulo Black Metal em prol do menos alienante Metal Extremo. No início dos anos 2000 o Enslaved abraçou de vez sua veia vanguardista na cena, com discos que exploravam novos territórios, o fazendo de maneira tão magistral que conseguiu não causar o afastamento dos fãs mais radicais, ao mesmo tempo que se colocava paulatinamente no radar de outros tantos que usualmente não se aventuram pelo espectro extremo do metal. Sou um desses. Confesso que demorei a dar a devida atenção à banda, embora tenha acompanhado com curiosidade a reação fervorosa de critica a discos como Vertebrae, Riitiir e In Times. E lá vou eu tentar descrever a tortuosa jornada pela mitologia nórdica que é esse novo trabalho.


Ok, nós somos uma banda de Black Metal diferente...mas não, não vamos sorrir!


Storm Son (ver vídeo), o épico que abre o disco, parece uma compilação do que o “novo Enslaved” tem a oferecer: abertura etérea que poderia bem ter saído da fase atual do Anathema, com o novato Håkon Vinje inaugurando as linhas melódicas com uma bela e aveludada voz que faz excelente contraponto aos urros do veterano baixista/vocalista Grutle Kjellson. Enquanto isso Ivar Bjørnson, o outro sobrevivente da formação original, destila riffs que enveredam muito mais para o progressivo, ao lado do já conhecido “Ice Dale”. Mas se engana quem pensa que a banda deixou para trás qualquer laço com o metal extremo, e é o excelente Cato Bekkevold quem melhor faz a transição entre os dois mundos, que se dá logo antes do refrão, com uma performance baterística de tirar o chapéu.  Uma música tão bem construída que faz dez minutos passarem sem nos darmos conta.



The River’s Mouth (ver vídeo) é bem mais direta, mas nem por isso menos abrangente e expansiva em seus limites musicais, com os timbres de guitarra e teclados e ótimo refrão lembrando um bocado o Space Metal que o Amorphis tentara (a meu ver com sucesso) em Am Universum. Mas os grunhidos de Grutle e os cânticos épicos da ponte fazem com que a mistura se mostre única e perfeita. Excelente, assim como a produção da bolachinha, nas mãos da dupla Ivar e Grutle, com mixagem do onipresente Jens Bogren.


Sacred Horse traz elementos de Black Metal mais old school e escalas orientais fundidos a hammonds e emoldurados por um final épico e muito bem bolado que ressalta o nível de maturidade que a banda atingiu em suas composições. Nada aqui é gratuito ou parece fora de lugar. Axis Of the Worlds é outra faixa que faz com maestria a fusão de elementos de rock clássico e progressivo com uma estrutura musical que torna prontamente identificável se tratar de uma banda extrema norueguesa. Os solos de alma bem rocker no meio disso tudo ficaram surpreendentemente agradáveis, diga-se.



Rock Progressivo e cânticos ritualísticos abrem e fecham a por vezes etérea Feathers Of Eoh, que conta com uma flauta como elemento alienígena. E, como parece ter se tornado comum, há também um saxofone no épico que encerra o disco, Hiiindsiight. Cheia de mudanças de andamento e clima, a faixa ainda traz o auxílio vocal de Einar Selvik, famoso por seus trabalhos com o Wardruna, Gorgoroth e Saahg (e pela trilha sonora da série Vikings, onde também chegou a atuar como ator). A edição especial do disco vem com dois inspirados bônus que em nada atrapalham o repertório original.


Veredito da Cripta

O novo trabalho do Enslaved catapultou o nome banda para um novo patamar no mundo do rock. Já respeitada no meio metálico, em muito por sua postura vanguardista, repentinamente passou a ser adulada nas listas de melhores de 2017 por mídias especializadas em progressivo e até mesmo em veículos mais dedicados ao mainstream. Segundo Ivar, um sonho que se faz realidade: “parece que finalmente, após 14 discos, começamos a acertar nosso som”. E o que faz essa conquista mais curiosa (e merecida) é que E está longe, muito longe de ser um disco raso. Pelo contrário, é um trabalho denso e cheio de nuances, mas sem fazer concessões em relação ao peso. Um dos grandes discos de 2017? Com certeza.

  
NOTA: 9,67

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Gravadora: Shinigami Records (nacional).
Pontos positivos: mistura brilhante de elementos de metal extremo com outros estilos
Pontos negativos: definitivamente não é um disco para quem tem problemas de concentração
Para fãs de: Ihsahn, Opeth
Classifique como: Black Metal, Space Metal, Prog Metal


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